Informações gerais quanto a cirurgia e a anestesia em crianças

Quando existe indicação de tratamento cirúrgico em uma criança, é natural que os pais mostrem-se apreensivos, necessitando de orientação e esclarecimento adequados.

 

1) Preparando seu filho para a cirurgia :
Em primeiro lugar os pais devem receber do cirurgião pediátrico orientações que lhes permitam conhecer como será realizada a cirurgia, para que eles sintam-se seguros e possam transmitir esta segurança para seu filho.
Além disso é importante não esconder do paciente o que será realizado, mas sem entrar em detalhes. Evita usar expressões que possam assustá-lo (exemplo : usar a palavra “cortar”).
Demonstrar carinho e acima de tudo segurança. Levá-lo ,se possível, para conhecer o local onde será realizado a cirurgia. Todos estes fatores citados auxiliam no preparo pré-operatório.

 

2) A Cirurgia :
A grande parte das cirurgias ambulatoriais pediátricas são feitas em regime de “ Hospital-Dia ”, ou seja, o paciente terá alta hospitalar no mesmo dia da cirurgia. O paciente não precisa ficar internado, não vai passar a noite num quarto do hospital, evitando assim uma maior separação do ambiente familiar e diminuindo os riscos de infecção hospitalar.

2a – Meu filho precisará fazer exames de rotina antes de realizar a cirurgia ?
Exames de rotina são aqueles solicitados sem uma justificativa médica, apenas pelo hábito. Por exemplo, hemograma, coagulograma, parcial de urina, raio-x de tórax, etc. Em relação à solicitação destes exames adotamos os critérios recomendados pela Society for Pediatric Anesthesia, órgão da American Society of Anesthesiology. Estas instituições preconizam que não há necessidade de exames de laboratório de rotina antes de cirurgias realizadas em crianças que não tenham doenças graves e submetidas a cirurgias sem a expectativa de grandes perdas de sangue. Nesta categoria está a maioria das cirurgias pediátricas como por ex: correção de fimose, herniorrafia inguinal, orquidopexia, entre outras. Entre as várias razões para esta recomendação estão as seguintes:
a) estes exames não trazem mais informações do que um exame clínico poderia trazer;
b) sem contar com qualquer erro de laboratório há pelo menos 5% de exames alterados em pacientes normais;
c) os resultados positivos raramente são considerados pelo médico quando a criança não tem sintomas (então para que pedir?);
d) a coleta de sangue pode exigir várias punções venosas na criança pequena ou obesa o que pode ser por si uma causa de trauma psicológico maior que a própria cirurgia;
e) não há estudos científicos que demonstrem benefícios destes exames pedidos como rotina.

2b – Jejum para cirurgia :
O jejum é uma medida de segurança universalmente adotada. Visa reduzir o risco de aspiração para os pulmões de material do estômago. Em condições normais o organismo humano utiliza reflexos que impedem a entrada na traquéia de qualquer material que não ar. Os anestésicos bloqueiam estes reflexos. Sabemos que o jejum irrita as crianças, especialmente as menores, porém fora o desconforto, ele não traz maiores problemas para a saúde.
Confira a tabela:

 

3) A presença dos pais no momento da cirurgia :
Nas crianças acima de 6 a 12 meses de idade é importante que um dos familiares permaneça junto a criança até ela adormecer, contribuindo para que ela sinta-se segura. Em alguns hospitais é permitida e incentivada a permanência do pai e/ou da mãe ao lado da criança durante a indução anestésica (período de tempo necessário para que a criança durma) .
Durante o ato cirúrgico no entanto não é permitido a presença dos familiares, por dois motivos :  para diminuir os risco de infecção e evitar transtornos a rotina da sala cirúrgica. Imediatamente depois da cirurgia a criança é encaminhada para uma sala de recuperação pós-anestésica imediata (REPAI), localizada dentro do centro cirúrgico, até recobrar a consciência.
Já no quarto, assim que estiver bem acordada, a criança poderá alimentar-se , segundo orientação médica .

 

4) A Anestesia :
  A anestesia geral é requerida para praticamente todo procedimento cirúrgico na criança.

 

4a – Existe algum teste para saber se meu filho poderá receber anestesia ?
Muitos pais perguntam se há alguma forma de teste para saber se a criança pode receber anestesia. Não há estes testes, pelo menos nos moldes daqueles utilizados para identificar as alergias. Caso fôssemos realizar algum “teste de anestesia” teríamos que expor a criança aos vários medicamentos que são utilizados durante uma anestesia na busca de alguma manifestação alérgica ou outro tipo de reação. Isto implicaria em realizar uma anestesia !
O “teste” é na realidade uma consulta médica bem objetiva e que busca avaliar as condições de saúde da criança e orientar os pais e as crianças quando possível.

 

 4b – A Anestesia será só um “cheirinho” ? O que isto quer dizer ?
  O primeiro passo para a anestesia geral é a hipnose que é obtida por medicamentos que agem no cérebro. Estes medicamentos só podem atingir o cérebro pela corrente sanguínea. E podem atingir a corrente sanguínea por vários caminhos como as vias muscular, oral, retal, pulmonar e venosa. A anestesia utiliza preferencialmente a via venosa e inalatória para induzir a hipnose. O “cheirinho”, como muitos definem a via inalatória, é apenas uma via de administração de medicamentos na forma gasosa.  Como a via inalatória dispensa o uso de injeções é a preferida pelas crianças.

 

 4 c – Quais são os riscos da anestesia ?
Uma preocupação natural de todos os pais é saber sobre os riscos da anestesia. Na anestesia, como em qualquer atividade exercida pelo ser humano, há riscos. O que se deve avaliar é se os benefícios justificam estes riscos. E, em medicina, a resposta é, na maioria das vezes, sim!. A segurança da anestesia hoje é muito maior do que já foi no passado graças aos novos medicamentos, aos monitores e aparelhos de anestesia mais modernos e ao melhor conhecimento da fisiologia da criança por parte do anestesiologista. Mas, ainda assim, há riscos que dependem de diversos fatores como o tipo de cirurgia, a sua urgência, a idade da criança, a experiência da equipe médica. Uma das formas de medir riscos em medicina é dividindo os casos com insucesso pelos casos com sucesso. Por este critério, podemos afirmar que os riscos da anestesia são desprezíveis, pois milhares de atos anestésicos são realizados no mundo todos os dias e sem acidentes.

 

5 ) Depois da cirurgia :
Em geral, para a maioria dos procedimentos cirúrgicos ambulatoriais pediátricos, as crianças operadas retornam tranqüilamente as suas atividades em 2 a 3 dias,  mas com a recomendação de que evitem exercícios físicos que possam traumatizar a região cirúrgica por 3 semanas ( exemplos:  lutas em geral, jogar bola, andar de bicicleta, andar de skate, andar de patins, …) . Este período de tempo varia de acordo com a cirurgia realizada e deve ser avaliado caso a caso.

 

As informações aqui contidas são exclusivamente para orientação inicial de pais e pacientes, baseando-se nas perguntas mais frequentes sobre doenças que podem necessitar de tratamento cirúrgico na infância.
NÃO SUBSTITUEM A CONSULTA MÉDICA . Consulte sempre um CIRURGIÃO PEDIÁTRICO para maiores informações.